Mal tinhas quinze anos
Coração. Recordas? Estavas apaixonado. Sonhavas e vibravas
tanto. Não eras o órgão propulsor do
sangue, mas a própria quimera alucinando a vida,
precipitando a tímida existência na longa
caminhada da ilusão. Logo encontravas os mais rudes espinhos e me procuravas como confidente... Em prantos.
Maldizias a sorte - parecias ingênuo...
Eu te perdoei. Dizia para
ti enfim com a maior ternura. Mereces Coração. És apenas um
louco e ingênuo - Coração criança... Engatinhando
os primeiros passos, mas tenta compreender! O
amor é caminho extremo dos encantos mais doces e o pináculo dos desenganos mais
amargos! Inesquecíveis ilusões e sonhos indescritíveis de encontros eternos e quimeras efêmeras que podem demorar séculos apenas em segundos, é às
vezes, furacão suave - tormentas no paraíso,
sorrisos no céu da esperança... E prantos no
inferno do adeus.
Dificilmente
felicidade serena.. Porque a paixão quase sempre é regada com as lágrimas da
saudade e o adubo é a angústia do
sonho desolado - o seu fruto mais provável é a
solidão.
O lapso
de tempo foi por demais curto. Aos dezoito anos
sussurravas - envergonhado... Estou amando outra vez... Agora simplesmente
começava a desconfiar de ti. Pobre Coração! Conclui sabiamente!? Serias
eternamente insano.Três anos são incrivelmente pouco para esquecer o que
deveria ser relembrado... Por séculos - Coração!
Vi com espanto novamente vibrares num diapasão
até mais frenético que da primeira vez - era maior a
intensidade do amor... Vagavas leve
qual plumas levadas pelos redemoinhos... Crente como
uma adolescente no seu primeiro amor e nas juras eternas. Chegavas a ver nitidamente no espaço sideral, todas as estrelas
remotas, desaparecidas há milhões de anos luz. Só havia
uma explicação - somente o amor é capaz de romântica loucura e de
fascinante ternura.
A terrível fatalidade não se fez demorar e novamente acabrunhado me perguntavas - o que
fazer. Por que a vida é assim? Se o amor
é apenas uma ilusão... Eu me apiedei de ti Coração! E respondi com os meus sorrisos mais enigmáticos... Não sei, mas
eu sabia - Coração! Sabia que sendo assim
louco... Absolutamente insano - desvairado. Não aprenderias e o teu caminho seria sempre esse.
Era fácil concluir. Somente eu te conhecia tão profundamente para
deduzir. Como
eras... Romântico - Coração!
Aos vinte anos cheguei
a imaginar o meu equívoco a respeito do Amor e que tu Coração o
havias encontrado finalmente, estavas enlevado na ternura
indescritível vias nas flores já
desbotadas o milagre de tornarem a vir a ser botão e, até, nas nas
brumosas fúrias
do mar encontravas acalanto e sublime calma... Em pleno
meio dia desfilavas nas ruas
de mãos dadas e nem sentias o
Sol.
Parecia o passado não contar no tempo
- a vida começar agora.
Somente
o Amor é capaz de tamanho e delicioso disparate - Coração.
Não tivestes mais coragem de me confessar...
Os teus
fracassos, mas eu os pressentia e chorava
contigo a desdita da tua teimosia congênita. Até nos
tornamos cúmplices.
Adulto e
vaidoso. Acreditavas não precisar mais de confidente. Seguias
o silêncio dos que não se julgam mais
digno de perdão, mas eu te
perdoava antecipadamente - Coração! Passaram os
anos... Eu seguia vivendo as mesmas angústias e as insanas delícias da
tua loucura extrema.
Muitos te
julgavam cínico. Outros te afirmavam cruel, somente ó
eu sabia - compreendia o teu dilema e ti perdoava.
Sempre estivemos
em paz e guerra! Porque vivíamos os mesmos
dramas pois éramos na
verdade as vítimas sonhadoras das mesmas quimeras.
Após tantos anos e de
tantas desditas... Sentir todos os espinhos... Bater
inutilmente em todas as portas, rastejar em todas
as veredas... Navegar em todos os rios - velejar oceanos e charcos -
cruzar todos os ares cheguei a
imaginar... Deverias estar curado - Coração!
Quando ia
te aplaudir... Dissestes espera - tenho um
segredo para contar: ruborizado
confessastes como se fosse um pedido de perdão - estou
apaixonado mais uma vez.
Trêmulo de espanto - incrédulo,
mas sempre cúmplice.
Procurei palavras, vasculhei vãs filosofias,
pesquisei lógicas e apenas
murmurei - sorrindo melancolicamente... Segue
o teu destino - Coração.
Percebi,
finalmente, que jamais compreenderia as tuas razões. Choramos e
sorrimos apenas... Alienadamente, pelos nossos enganos maravilhosos; ilusórias e
deliciosas razões, tantos sonhos
lindos, devaneios e desencontros.
Ficamos desde
esse dia mudos e indiferentes na perplexidade
dos que se vêm pela
primeira vez e não se reconhecem... Apesar
de na realidade vivermos os mesmos deliciosos
sonhos desesperados.
Parecíamos
absolutamente estranhos... Intrinsecamente íntimos e
racionalmente diferentes.
Mas vives dentro de mim e eu morro dia-a-dia
por ti. Acho que eu até te amo - Coração! Às vezes, sou tentado a imaginar
que me odeias. A nossa relação... Sempre foi é e será... De um
amor desvairado.
E o pior é que já
vivestes tanto e não aprendestes nada... És
o mesmo Coração criança ingênuo sempre
incompreendido pelos adultos.
Mas até quando desvairado -
Coração... Nos suportaremos reciprocamente. Pretendia
te Perguntar! Mas ouvindo o pulsar dos teus sonhos
compreendi tardiamente... Tu te antecipastes e com toda sinceridade respondestes
malicioso e
ironicamente... Eternamente! Eternamente! Eternamente.
Edvaldo
Feitosa
(Direitos autorais reservados sob o nº 180859)
* Fundação Biblioteca Nacional *
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